Se você passar lá no orquidário do meu pai, vai ver que os botões já estão se abrindo e colorindo
o ambiente com várias tonalidades de rosa. Tem outras cores também sabe, mas
essa bem prevaleceu. A que eu gentilmente ganhei de um amigo, um ano atrás,
voltou a florescer. Sempre bom saber que certas coisas voltam. Que não precisamos
confiar só na memória, essa que seleciona o que bem entende, que julga e deixa
escapar.
O importante é que nova estação vem chegando, uma semana. Não digo que é
minha predileta, tenho certo fanatismo por inverno (dos de verdade, por favor).
Mas essa, sem dúvida, é uma das mais bonitas. Árvore florida no meio da avenida
dá certa graça a um concreto tão rudemente chato. Confesso que nunca entendo os
ipês, sempre criativos em se colorear em diferentes tempos a cada ano. O bom é
que por aqui têm vários, especialmente dos amarelos. Tudo bem que não sou eu
que limpo, mas adoro ver o chão coberto por seus pedaços delicados.
Não sei ao certo se é essa delicadeza que vem a tona ou essa cor
formidável, mas a primavera definitivamente nos faz mais leves. Eu, particularmente,
me sinto mais motivada. Sair por aí com vestidos estampados dá um toque mais
feminino no mundo. O fato, contudo, é que entre setembro e outubro, a vida fica
cheirosa, todavia complicada. Já passou o meio do ano, nossa, como foi rápido
(ou nem tanto); mas ainda não estamos tão perto do Natal. É esse período de fim
antes do fim, em que normalmente surgem decisões que precisam ser tomadas antes
que venham as consequências para o próximo ano. Talvez seja só comigo, vai
saber. Mas parece ser aquela época em que se precisa decidir grande. E não
estou me referindo ao que fazer nas férias, quem dera. É mais para o que fazer
da vida antes que venha a turbulência de novembro-dezembro e a cobrança de
janeiro-fevereiro.
Pra quem tá se formando, seja lá de qual fase da caminhada, vem aquela
sensação de: eu necessito tomar providências. Por um lado, é bom assumir
decisões. Poder mudar um pouco, chance de pensar diferente, seguir em frente.
De querer e poder arriscar (somos todos jovens afinal, não?). Mas por outro, caramba.
Sei não se sou capaz, ou pior, se alguém vai me achar tão capaz quanto eu acho
- o suficiente para arriscar-se comigo e me escolher (vemnimim bom emprego!).
Optar por A ou B quer dizer obter resultados C ou D. Pode ser que a
semente se desenvolva e se torne uma obra-prima, ou que demore anos para
crescer ou simplesmente não vigar. Ás vezes depende daquele A ou B de setembro,
ás vezes foi o A ou B de outrem, ou o nem A nem B de um terceiro. Vai saber. A
questão é que, eu nem sei, de nada com nada. Isso tem lá sua face positiva. De
ter que confiar que a primavera será florida e o verão cheio de sorvete. Fé.
Tenho fé. Que eu ainda vou te ver balançando ingenuamente na cadeira de
balanço. Que a lua vai me fazer sorrir e não chorar. Que o mundo vai conspirar
para me ver feliz, sem tanta promessa que não vai cumprir.
Que a gente saiba escolher pelas causas justas. Que a cada botão, um
presente, uma surpresa, uma maneira de dizer que vai ficar tudo bem. Estou
contando com você, hein Primavera. Vem ser aquela tia perua solteira cheia de
humor e tempo sobrando que me leva para passear, pode ser? Prometo não pisar
nas flores, prometo pedir desculpa. Prometo escolher conforme a maluquice do
coração. Beleza. Sabedoria. Coragem. Vem?
Por: ❂
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