Abre a janela. Solta o cabelo. Escolhe aquele vestido verde simples. Vem descalça. Desarmada. Tá calor, mas logo vai chover. E você vai querer estar aqui fora, preparada. Pra abrir os braços, girar e se sentir na melhor idade. Pra se achar livre, competente. Pra se admirar e defender sua beleza de você mesma. Escuta. Podem ser pingos, podem ser folhas. Pode ser a felicidade batendo na porta do seu falso pessimismo. Me leva, vento. Pra direção do ar mais puro. Do sorriso mais sincero. Do cheiro de pão mais caseiro.
Quero ser leve. Sem preocupações adiantas, sem medos infundados. Polem de jardim, ovo no ninho. Natureza de possibilidades e novos começos. Nunca faltam chances de acertar. De fazer valer a pena. Sai da margem, mergulha logo e não para de nadar. Não esquece de respirar, de mirar na direção que almeja. Não é uma competição. Sem perdedores. É só você, sendo você mesma. Soprando a vela, subindo na bike, dançando ao que eles não vão escutar. Agora vai, solta a pipa, ergue a cabeça e inventa a trilha do que faz teu olho brilhar.
Hoje, meu estômago dói. Não por algum tipo de alimento, mas
por um sentimento bem peculiar e que não havia sentido ainda: o medo do futuro.
Sim, pela primeira vez, não sei que destino minha vida vai seguir. Perdi os trilhos
na escuridão do túnel. Estou andando na areia movediça. Preso na incerteza do
que virá. Espero que o tempo ande bem devagar, circular como as linhas de uma
concha de um caracol.
Não sei. Queria saber o que as estrelas me reservam. Me
afastarão dos meus sonhos ou me levarão para os meus pesadelos? Angústia. Boca
seca. O futuro é uma folha em branco e não sei com que tinta o pintarei.
Aquarela colorida ou com pedaços de carvão?
Dizem, os otimistas, que agora é a oportunidade de formular
uma nova vida, com novos planos. A chance de correr para os braços abertos de
um futuro ainda não descoberto. O lado bom da vida. Já os pessimistas são mais
sensatos. Um cenário mais hostil, mais cinza e mais frio. Triste. Querem sempre
ter a firmeza de um chão. O céu é só para ser visto por debaixo.
Não sei onde me encaixo. No momento pouco importa também.
Ontem foi difícil. Com certeza não só para mim. Mais gente está aí, buscando e
falhando, parando e vencendo. A chuva não cai só sobre mim. Porém, é difícil.
Cadê aquele empurrão?
E, de certa forma, acredito que a tristeza deve ser aproveitada.
Deixar de lado a dor e a derrota é fugir dos próprios pensamentos. Às vezes, da
tristeza pode sair uma flor. Mesmo que ela seja regada com lágrimas. Mas o
broto continua lá. Só precisa dar uma revirada na terra, adubá-la com nossas
cicatrizes. Uma hora desabrocha. Vai sim. Tempo após tempo. ✎